Garimpo supera área de mineração industrial 1g6l5w

Valor Econômico - https://valor.globo.com/ - 29/04/2025
Garimpo supera área de mineração industrial
Estudo mostra panorama da extração de minerais no país a partir de imagens de satélite e inteligência artificial e analisa período entre 2019 e 2022

29/04/2025

Marina Lang

Problema ambiental e social que se arrasta pelo menos desde a década de 1980, o garimpo irregular cresceu exponencialmente entre 2019 e 2022. Segundo um estudo conduzido por cientistas brasileiros e publicado na revista "Nature", a área ocupada pelo garimpo no Brasil ultraou a da mineração industrial em 2020 e essa tendência se intensificou nos anos seguintes. Em 2022, a área de garimpo alcançou 2.627 km2, enquanto a mineração industrial ocupava 1.800 km2.

O mesmo estudo mostra que ao menos 77% dos garimpos no país traziam sinais explícitos de ilegalidade há três anos. Mais de 91% dessa atividade está concentrada na Amazônia e, ainda de acordo com os pesquisadores, as áreas Kayapó, Munduruku e Yanomami são uma das mais afetadas pela atividade. "A pesquisa traz à luz a dimensão do problema, ainda mais diante da COP30, que vai ocorrer no Pará. É um problema nacional e global", diz Luiz Cortinhas, um dos autores do estudo, acrescentando que o trabalho se baseia em imagens de satélite e de inteligência artificial para identificar as áreas de mineração.

Embora ainda exista o garimpo manual, houve uma sofisticação da atividade. "Percebemos que estão crescendo em área e poderio de máquinas. Há garimpos que são grandes, com maquinários pesados e caros, muitas vezes, relacionados a redes criminosas", completa Arlesson Souza, que também assina o artigo. A equipe de cientistas promete lançar o Sistema de Atividade Garimpeira (SAG), cujo intuito é monitorar essa atividade com base em atualizações semanais de dados.

Em paralelo, o governo vem intensificando as ações de combate à mineração ilegal desde 2023, sobretudo nas terras indígenas apontadas pela pesquisa publicada na Nature. Balanço divulgado pela Polícia Federal em fevereiro indica que a instituição abriu 350 inquéritos, indiciou 720 pessoas e prendeu outras 299 pessoas sob acusação de garimpo ilegal nas Terras Indígenas Yanomami (TIY).

As ações são fruto da Operação Libertação, que se baseia em 24 metas desenvolvidas pela PF desde fevereiro de 2023, quando houve declaração de emergência de saúde pública devido à crise humanitária que se instaurou por conta dos invasores no território. A Casa de Governo, vinculada à Casa Civil e criada para lidar com a questão, apontou que as áreas de garimpo ativas dentro da TIY sofreram uma redução de 94,11% entre março de 2024, quando ocupavam 4.570 hectares, e fevereiro de 2025, para 269 hectares.

Os números institucionais, no entanto, divergem de um monitoramento feito pelo Greenpeace, lançado no começo deste mês. De acordo com o relatório "Ouro Tóxico - Como a exploração ilegal de ouro na Amazônia alimenta a destruição ambiental, as violações dos direitos indígenas e um comércio global obscuro", houve uma redução de 7% da atividade nos últimos dois anos na TIY. Já na Munduruku, houve uma queda de 57%, e na Kayapó, de 31%, segundo a ONG. Ao mesmo tempo, o documento aponta que o garimpo ilegal se expandiu 93% na Terra Indígena Sararé, o que indicaria um deslocamento de local, quando a atividade se torna inviável em outro.

"A desintrusão de garimpos em terras indígenas é um trabalho hercúleo, ainda mais com as facções criminosas nessa exploração, porque envolve combate com armas de grosso calibre", diz Jair Schmitt, vice-presidente do Ibama. Ao Valor, ele forneceu um dado inédito com base na plataforma de satélites Brasil Mais, do Ministério da Justiça: entre 2022 e 2024, houve queda de 41% em novas áreas abertas de garimpo ilegal na Amazônia brasileira.

"O Ibama vem atuando nessas áreas e, de 2023 a 2024, mais de 1.200 balsas, 300 escavadeiras, 800 motores e 66 aviões foram apreendidos e destruídos", enumera. Schmitt ressalta que ocorre um fortalecimento da autarquia e que a contratação de novos servidores resulta em mais ações. "Também estamos fiscalizando permissões em garimpos autorizados, que têm permissão de lavra, mas que executam de maneira ilegal, explorando outro local. Já embargamos 57 dessas atividades, que são usadas para esquentar ouro."

Outro aspecto que envolve o tema é a falta de controle da procedência do ouro no mercado internacional. De acordo com dados levantados pelo Instituto Escolhas, 50% do minério extraído no Brasil e comercializado no mundo era proveniente do garimpo ilegal. Pensando nisso, a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) articularam uma parceria para desenvolver um software que rastreia a origem do elemento. "O efeito colateral do ouro irregular é negativo, pois traz deflorestamento, envenena rios com mercúrio, desencadeia violência contra indígenas e amplia a atuação de facções criminosas", explica Raul Jungmann, presidente do Ibram. A plataforma desenvolvida com a USP tem previsão de lançamento em agosto e vai abarcar outros minerais cobiçados por criminosos.

https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/mineracao/noticia/2025/04/29/garimpo-supera-area-de-mineracao-industrial.ghtml
Garimpo:Amazônia

Related Protected Areas: 682w2i

  • TI Kayapó
  • TI Mundurucu
  • TI Sararé
  • TI Yanomami
  •   204un

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.